Tradições e apropriações

Durante os dias de pausa inerentes à quadra natalícia aproveitei, como a maioria das pessoas, para passear e comprar alguns presentes. Em longos passeios notei, com agrado, que os produtos portugueses são orgulhosamente destacados e cada vez mais diversificados. O Galo de Barcelos ganhou traços mais modernos; o Coração de Viana deixou de estar só presente na ourivesaria e passou ser estampado em peças de vestuário, acessórios e afins; os Lenços dos Namorados ganharam uma projecção internacional e levam consigo o nome do Minho e em particular de Vila Verde. Ora aqui é que se apresenta um pequeno "senão". Os Lenços dos Namorados NÃO são exclusivamente vilaverdenses. Há alguns anos atrás a aposta do município nos lenços foi clara e várias foram as estratégias definidas para ligar o concelho aos lenços, nomeadamente a criação de uma marca no ano de 2003.

A internacionalização da marca é aposta actual do município vilaverdense. Desde publicidade na revista da transportadora aérea TAP até à organização de desfiles de moda, em que costureiros de certa notoriedade são convidados a desenhar peças de vestuário e calçado inspirado no tema dos lenços, tudo é explorado no sentido de promover Vila Verde como terra dos Lenços dos Namorados.

Uma simples pesquisa no motor de busca Google revela o sucesso da campanha encetada pelo município de Vila Verde. Os resultados apresentados neste motor de pesquisa, ou noutros, quando escrevemos "lenços dos namorados" surgem, em cerca de 80%, associados a este concelho minhoto.

As reacções das populações vizinhas é ténue mas faz-se sentir nas redes sociais, blogues e imprensa local.

Do ponto de vista da memória, os lenços dos namorados, à semelhança de outras tradições ou figuras, saltam agora para uma actualidade em que são moldados às necessidades dos poderes instituídos. Se por um lado este reavivar das tradições contribui para a sua preservação, por outro assistimos a uma adaptação às conveniências do momento sendo que os aspectos susceptíveis de se tornarem rentáveis são exaltados enquanto outros, por terem menos potencial, são esquecidos.